O Beijo da Fénix

O Renascimento sob o Signo da Fénix, por Isa e Neuza

9/05/2006

Branco por acaso


"Vejo na televisão uma manifestação de racistas. Um porta-voz diz aos jornalistas, com as poucas competências linguísticas que conseguiu desenvolver até à idade adulta, que tem "orgulho em ser branco".
Claro que tem "orgulho em ser branco": quando não se pode ter orgulho em ser inteligente, em ter talento, em ter aumentadoa sua cultura e educação, em ser boa pessoa, em ter-se aperfeiçoado, em ter ajudado as pessoas, em ter feito o mundo melhor ou em ter sido um exemplo para os outros. Quando não se pode ter orgulho em ser apreciado por pessoas de proveniências e culturas diferentes, em ter estado num país estrangeiro, ter feito amigos e ter deixado saudades. Quando não se pode ter orgulho em saber cozinhar, falar, dançar, tocar um instrumento, pintar, amar e ser amado por uma pessoa que admiramos, trabalhar no duro (...) ter criado filhos e netos. Quando não se pode ter orgulho em saber alinhar duas ideias, saber compreender uma única ou ter tido nenhuma.
Quando não se pode ter orgulho em nada, tem-se orgulho em "ser branco". É o que sobra ao destituído total. Também a nódoa no pano, coitada, deve ter orgulho em "ser nódoa", o buraco em "ser buraco", a bosta em "ser bosta".
No entanto, o que esse imbecil ainda não entendeu é que ele nem sequer teve responsabilidade em ser branco. É só branco por acaso.
Tem, de facto, muito de que se orgulhar."

(in Pobre e Mal agradecido - Rui Tavares)

Isabel Reis Santos

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial