Cobardia
“Tolo, tu cultivas o medo, estás enclausurado por ele, que é como uma grilheta que te aprisiona na cela escura em que te escondes, encolhido e assustado, e donde não consegues sair; às vezes, quando abres os olhos, o mundo parece-te tão sombrio que os fechas logo, e odeias-te porque querias outros olhos para o ver… não querias ter tanto medo.
(…)
A tua capa de sarcasmo não me ilude, idiota!, (…) ris-te, mas sei como te desesperas quando tentas escrevinhar e não consegues, lindas histórias de amor e paixão, tão intensas, homem conhece mulher, aproximam-se, sorriem, tentam-se, frases doces no ouvido, beijos carícias, desejo; mas não as conheces, essas histórias, esses amores, não os sentes aí encolhido no buraco escuro, e por isso não escreves, como poderias?; desesperas, pensas, sonhas, imaginas como seria; são sonhos que te comovem, mas que mesmo assim te deixam vazio, tu que com tanto desespero desejas o sucesso e a felicidade, pobre de ti.
(…)
Não consegues, não é?, e já pensaste porquê?, já pensaste porque não consegues escrever nem amar?, sim, sabes que é porque não tens dom, nem pessoas reais sobre quem falar, nem uma vida verdadeira, aí escondido que estás no teu casulo como uma larva, com terror de não saberes o que fazer no mundo dos vivos…
(…)
E querias tu viver estórias de amor que gostavas de conseguir escrever para assim aplacares o medo pânico de te dares, tu que, escondendo-te, desejas passar despercebido como uma sombra fugidia; sei como te consomem de raiva e ódio esses amores e paixões apenas imaginados, e depois nem uma palavra escrita no papel; e já perguntaste porquê?
(…)
E o que é que descobriste?, que o empecilho eras tu?, pobre idiota, que choras na tua cela vazia onde ninguém vai, onde ninguém te vai buscar, porque ali não há ninguém, só uma sombra a olhar-se ao espelho ávida dos sonhos e emoções de homens e mulheres, tão intensas, tão vibrantes, que dói não as sentir.
(…)
Odeias-te, detestas o desalento, a falta de iniciativa que te fixa ao mesmo ponto, como um insecto de colecção, já reparaste?, já pensaste que isso acontece por teres pavor da mudança, do risco?, pobre de ti, que não querias ver tanta fraqueza na sombra no espelho.
(…)
Sim, a loucura pode ser uma boa solução, não é?, muito conveniente para os fracos como tu, encolhidos na cela, receando e, ao mesmo tempo, desejando a demência, pois os loucos não se apercebem que estão sós no escuro, não sentem medo, já pensaste nisso não foi?; sim, e sei que já pensaste noutra fuga, mas que a cobardia te impede de realizar, não é assim?”
(José Leonardo – “O Outro”)
Neuza Gonçalves Silva
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A tua capa de sarcasmo não me ilude, idiota!, (…) ris-te, mas sei como te desesperas quando tentas escrevinhar e não consegues, lindas histórias de amor e paixão, tão intensas, homem conhece mulher, aproximam-se, sorriem, tentam-se, frases doces no ouvido, beijos carícias, desejo; mas não as conheces, essas histórias, esses amores, não os sentes aí encolhido no buraco escuro, e por isso não escreves, como poderias?; desesperas, pensas, sonhas, imaginas como seria; são sonhos que te comovem, mas que mesmo assim te deixam vazio, tu que com tanto desespero desejas o sucesso e a felicidade, pobre de ti.
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Não consegues, não é?, e já pensaste porquê?, já pensaste porque não consegues escrever nem amar?, sim, sabes que é porque não tens dom, nem pessoas reais sobre quem falar, nem uma vida verdadeira, aí escondido que estás no teu casulo como uma larva, com terror de não saberes o que fazer no mundo dos vivos…
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E querias tu viver estórias de amor que gostavas de conseguir escrever para assim aplacares o medo pânico de te dares, tu que, escondendo-te, desejas passar despercebido como uma sombra fugidia; sei como te consomem de raiva e ódio esses amores e paixões apenas imaginados, e depois nem uma palavra escrita no papel; e já perguntaste porquê?
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E o que é que descobriste?, que o empecilho eras tu?, pobre idiota, que choras na tua cela vazia onde ninguém vai, onde ninguém te vai buscar, porque ali não há ninguém, só uma sombra a olhar-se ao espelho ávida dos sonhos e emoções de homens e mulheres, tão intensas, tão vibrantes, que dói não as sentir.
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Odeias-te, detestas o desalento, a falta de iniciativa que te fixa ao mesmo ponto, como um insecto de colecção, já reparaste?, já pensaste que isso acontece por teres pavor da mudança, do risco?, pobre de ti, que não querias ver tanta fraqueza na sombra no espelho.
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Sim, a loucura pode ser uma boa solução, não é?, muito conveniente para os fracos como tu, encolhidos na cela, receando e, ao mesmo tempo, desejando a demência, pois os loucos não se apercebem que estão sós no escuro, não sentem medo, já pensaste nisso não foi?; sim, e sei que já pensaste noutra fuga, mas que a cobardia te impede de realizar, não é assim?”
(José Leonardo – “O Outro”)
Neuza Gonçalves Silva
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