O Beijo da Fénix

O Renascimento sob o Signo da Fénix, por Isa e Neuza

10/27/2006

Lugares Comuns


A escrita; é ela que nos afoga neste mar de palavras não ditas?

Eu escrevo. Escrevo o meu silêncio eterno, a minha metáfora de dúvida, que tu nunca compreendes.

Mal me conheces e, mesmo assim, esqueces-te. Esqueces-me demasiado depressa para te poderes lembrar. Sou um absoluto nada na tua memória.

É esta a triste farsa que nos une? Quem és tu - pergunto-me - um solitário aparente? De que te serve uma máscara se não a consegues tirar?

Queres saber o que penso? O outro lado das quatro paredes brancas afastaram-te.

A tua permanente não respiração conserva-te intocável. Mas eu toquei-te - senti-te - com a minha mão sobre a tua camisa e sei que suavas. Tu tocaste-me na pele do ombro, mas não me sentiste, pois não? Não como eu sei sentir os teus braços destapados, as tuas mãos, só de os olhar.

Queres a verdade? Ardes-me na língua. O calor do teu corpo de gelo é o teu mistério. Ardes-me e queimas-me. Fazes-me sentir frágil e selvagem. Fazes-me recuar.

És aquele de quem se gosta porque se odeia. Aquele que se odeia sem razão.

Sinto-te a rir do meu medo tão previsível. Pensavas que eu era diferente? E era; e sou. Eu sou a do meio da multidão, a que espera pelo fim e depois foge, por não querer admitir que desejava que seguissemos para o mesmo lado. Não percebes que fujo para que sigas? É por isso que não olho para trás. Sei que nunca está lá ninguém.

Remeto-me ao silêncio e observo-te de dentro de mim, donde aprendi a não sair sem metáforas.

Perdoa-me o exagero de palavras e as ironias. A barreira que nos separa é como um espelho sólido e invisível que não conseguimos ultrapassar. A nossa permanente tentação de não evoluir.

Receio que o nosso clone se tenha tornado num lugar comum.
Estou tão à deriva como tu e ninguém gosta de lugares comuns.

Isabel Reis Santos

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